segunda-feira, 21 de agosto de 2017

NEUROCIÊNCIA - "EXPERIÊNCIAS DE QUASE MORTE SEGUEM UM PADRÃO"

Sequência da quase-travessia

Ninguém realmente sabe o que acontece quando morremos, mas muitas pessoas têm histórias para contar sobre o que experimentaram quando estiveram perto da morte.
Quem teve esta experiência geralmente relata memórias muito ricas e detalhadas do evento. Embora tais experiências possam assumir muitas formas diferentes, alguns dos fenômenos bem conhecidos incluem ver uma luz brilhante, experimentar um sentimento de paz, ter uma experiência fora do corpo e perceber um túnel.

Embora esforços significativos de pesquisa tenham chegado a uma boa compreensão das características fenomenológicas específicas relatadas durante as experiências próximas da morte, a literatura científica sobre a estrutura temporal das experiências de quase-morte (EQM) ainda é bastante limitada.

Por exemplo, uma área menos explorada é se há alguma regularidade temporal nas experiências de quase-morte - em outras palavras, as pessoas tendem a experimentar os diferentes fenômenos em uma mesma ordem sequencial ou cada um tem sua própria sequência ?

"Pelo nosso melhor conhecimento, nenhum estudo investigou formal e rigorosamente se as características da EQM seguem uma ordem ou distribuição fixa," justificou a pesquisadora Charlotte Martial, da Universidade de Liége (Bélgica). "O objetivo do nosso estudo foi investigar a distribuição de frequência dessas características, tanto globalmente como de acordo com a posição das características nas narrativas, bem como as sequências temporais mais frequentemente relatadas dos diferentes fenômenos da experiência de quase-morte".

Fenômenos durante a experiência de quase-morte

A equipe coletou e analisou relatos escritos de 154 pessoas que passaram pela experiência, catalogando as sensações e ocorrências específicas presentes em cada narrativa e depois examinando a ordem de surgimento dos diferentes fenômenos em cada história.

Em média, uma pessoa experimenta cerca de quatro fenômenos diferentes durante uma experiência de quase-morte. As características mais frequentemente relatadas foram: Sentimento de paz (80% dos participantes), ver uma luz brilhante (69%) e encontrar-se com espíritos ou pessoas já mortas (64%).

Em termos de cronologia, um terço dos narradores (35%) descreveu uma experiência fora do corpo como a primeira característica de sua experiência de quase-morte; por decorrência, a última experiência mais frequente foi retornar ao corpo (36%).
"Isso sugere que as experiências de quase-morte parecem ser regularmente desencadeadas por uma sensação de desconexão do corpo físico e acabam quando retornam ao corpo," confirmou Charlotte Martial.

No geral, os fenômenos mais comumente compartilhados pelos diversos narradores foram: sentir-se fora do corpo, sentir-se em um túnel, ver uma luz brilhante e, finalmente, um sentimento de paz - essa sequência exata de eventos foi relatada por 22% dos participantes.

A conclusão geral é que, embora diferentes tipos de experiências sigam-se naturalmente, principalmente aos pares, não é possível estabelecer uma sequência universal de eventos na amostra de narrativas analisada, o que sugere que cada experiência de quase-morte tem um padrão único de eventos, ainda que os eventos individualmente sejam comuns às diversas pessoas.

Compreensão científica das experiências de quase-morte

Em outras palavras, a ordem na qual os diferentes tipos de experiências ocorrem pode ser muito individual.

No entanto, Martial e seus colegas afirmam esperar que uma análise mais profunda de como os diferentes fenômenos se relacionam entre si pode levar a uma definição mais rigorosa e a uma melhor compreensão científica das experiências de quase-morte como um todo.

"Isso levanta questões importantes sobre quais aspectos específicos das experiências de quase-morte podem ser considerados universais - e quais não podem. Mais pesquisas serão necessárias para explorar essas diferenças e a extensão precisa de quais conteúdos dessas experiências refletem as expectativas e origens culturais [de cada pessoa], bem como os mecanismos neurofisiológicos subjacentes às experiências de quase-morte," concluiu Charlotte Martial.

(A análise foi publicada na revista científica Frontiers in Human Neuroscience)

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

PESQUISA - "DISTÚRBIOS DO SONO PODEM TER ORIGEM NOS MÚSCULOS"

Músculos e sono

Os cientistas que vasculham o cérebro em busca de explicações para alguns distúrbios do sono podem estar procurando no lugar errado.

Uma proteína presente nos músculos mostrou-se capaz de afetar diretamente o sono e os efeitos da perda de sono, uma revelação surpreendente que desafia a noção amplamente aceita de que seria apenas o cérebro  que controlaria todos os aspectos do sono !

"Esta descoberta é completamente inesperada e muda as maneiras pelas quais pensamos que o sono é controlado," disse o Dr. Joseph Takahashi, da Universidade Sudoeste do Texas (EUA).

A descoberta dá um novo alvo além do cérebro para desenvolver terapias para pessoas com distúrbios do sono - da falta de sono à sonolência excessiva.

Controle do sono

Em experimentos com animais, a equipe do Dr. Takahashi demonstrou como uma proteína envolvida com o ritmo circadiano muscular, chamada BMAL1, regula o modo de dormir e a duração do sono.

Enquanto a presença ou ausência da proteína no cérebro teve pouco efeito na recuperação do sono, os animais com níveis mais altos de BMAL1 em seus músculos recuperaram-se da privação de sono muito rapidamente. Além disso, a remoção da BMAL1 do músculo perturbou gravemente o sono normal, levando a uma maior necessidade de dormir, a um sono mais profundo e a uma capacidade reduzida de recuperação.

O Dr. Takahashi afirma que a descoberta pode eventualmente levar a terapias que possam beneficiar as pessoas cujo trabalho exige longos períodos de vigília, do pessoal de saúde até pilotos de aviões.

"Estes estudos mostram que fatores nos músculos podem sinalizar para o cérebro para influenciar o sono. Se houver vias semelhantes nas pessoas, isso proporcionaria novos alvos para medicamentos para o tratamento dos transtornos do sono," disse ele.
A pesquisa foi publicada na revista científica eLife.

(Diário Da Saúde)