Os oligoelementos são assim chamados porque eles são encontrados em concentrações ínfimas no organismo, inferiores a 0,01% do peso corporal.
Para ser considerado de essencial um oligoelemento deve preencher os 3 critérios abaixo:
Ele deverá estar presente no organismo de forma constante;
A deficiência do oligoelemento em questão deverá ser acompanhada de sinais e/ou sintomas patológicos associados a uma diminuição de sua taxa no sangue e nos tecidos;
A suplementação deste elemento isoladamente deverá prevenir o aparecimento dos sintomas e/ou sinais observados.
RDA – The Recomended Dietary Allowance - 1989
Durante muito tempo tentou-se estabelecer as necessidades mínimas de nutrientes e calorias que permitissem o desenvolvimento normal do ser humano.
Vários comitês de pesquisadores se reuniram para estudar os argumentos científicos disponíveis e elaborar recomendações nutricionais. As recomendações mais conhecidas são as editadas pela Academia Nacional de Ciências dos USA – RDA e as editadas pela Organização das Nações Unidas – FAO-WHO. Além dessas vários países têm suas próprias recomendações adaptadas as características locais, como por exemplo, o Canadá, França e Austrália.
Teores de nutrientes essenciais ingeridos que, com base no conhecimento atual, são considerados pela “Food and Nutrition Board” como sendo adequados para satisfazer as necessidades conhecidas desses nutrientes em praticamente todas as pessoas saudáveis.
O que são necessidades fisiológicas normais? Qual o estoque de cada nutriente considerado adequado para a manutenção das necessidades fisiológicas em períodos de aporte mínimo? Como medir?
O que é saúde?
Diferentes respostas = diferentes recomendações
>>>Boro
Essencialidade
Micronutriente considerado essencial as plantas em 1923 e ao ser humano e animais em 1981.
Total de boro no organismo 3-20mg
Funções:
Performance intelectual – a deficiência de boro diminui a performance na utilização do computador e diminui o estado de alerta mental.
Membrana celular
Síntese de RNA no fígado
Ossos: a deficiência de boro agrava a osteoporose na pós menopausa por diminuição da osteocalcina e da calcitonina. A reposição com boro diminui o teor de Ca e Mg na urina e aumenta as taxas de 17B estradiol e testosterona na menopausa
Melhora da artrite com reposição de Boro
Reposição de boro diminui o número de plaquetas e diminui a incidência de tromboses
Necessidades Diárias 3-5mg
>>>Cobre
Essencialidade
1928 – essencial ao animal – devido a uma anemia do rato que respondia ao Cobre
1966 – essencial ao homem – crianças no Peru que foram alimentadas com leite de vaca modificado (fortificado com ferro) que desenvolveram uma anemia e neutropenia que não respondia ao ferro e que foi normalizada com a suplementação de cobre.
Deficiência de Cobre
Afeta a enzima citocromo C oxidase (contem cobre e ferro) e atua no transporte de elétrons do citocromo C ao O 2 na cadeia respiratória – cardiomiopatia?
Enzima SOD zinco-cobre – enzima responsável pela eliminação do superóxido. A SOD zinco-cobre é considerada um bom marcador da deficiência de cobre.
Enzima dopamina β hidroxilase necessária para a conversão de dopamina em norepinefrina – patologia neurológica e hipertrofia cardíaca
Enzima lisiloxidase – atua no metabolismo do colágeno – atua na lisina permitindo ligações covalentes entre 2 hélices da mesma ou de diferentes super hélices. Responsável pela rigidez do colágeno.
Faz parte da elastina que é responsável por dar elasticidade ao colágeno. Na deficiência de elastina pode ocorrer ruptura dos grandes vasos, aneurismas, osteoporose, enfisema, ossos frágeis e deformação óssea.
Tirosinase – enzima que atua na formação da melanina (pigmentação da pele e cabelos)
Fator IV – atua na coagulação do sangue
Enzima Tiol oxidase – atua na formação das pontes de disulfito que deixa os pelos duros e encaracolados.
Aumento das taxas de colesterol com aumento do LDL
Sinais Clínicos:
Anemia resistente ao ferro de mecanismo ainda não elucidado,
Hipertrofia cardíaca
Alteração do SNC com desmielinização
Hipercolesterolemia
Alteração da imunidade humoral e celular
>>>Cromo
Diabetes
O cromo tem um papel de destaque no metabolismo do açúcar. A insulina atua nas células através do receptor tirosina quinase. A insulina estimula a atividade da tirosina quinase após uma ligação com um receptor que contém cromo. A capacidade de estímulo da insulina depende da quantidade de cromo no receptor. A deficiência de cromo e de vanádio dificulta a normalização da glicemia nos diabéticos e aumenta o risco cardiovascular. Um estudo realizado nos USA em 1997, analisou o cabelo, o plasma e o suor de 40.872 pessoas e encontrou uma deficiência de cromo mais importante nos homens do que nas mulheres e uma diminuição crescente do cromo com a idade agravando o risco do desenvolvimento do diabetes e das doenças cardiovasculares. Além disso, os autores encontraram uma correlação importante do cromo no cabelo, suor e sangue o que torna a análise do cabelo apropriada para a avaliação das reservas corpóreas do cromo.
Confirmation: chromium levels in serum, hair, and sweat decline with age. Mertz W. Nutr Rev 1997 Oct;55(10):373-5
Doença cardiovascular
Estudos epidemiológicos vem demonstrando que indivíduos com taxas de cromo inferiores tem maior risco de doença coronariana A deficiência de cromo causa hiperinsulinemia com aumento do risco cardiovascular, com aumento do LDL.
Estudos de suplementação com cromo tem observado diminuição do colesterol e do LDL.
>>>Manganês
Essencialidade
Essencial ao animal em 1931: afeta o crescimento e a reprodução do rato;
Essencial ao homem em 1974
Enzimas a Mn
Arginase – formação da uréia
Piruvato carboxilase – síntese de HC a partir do piruvato
Glutamina sintetase
SOD Mn
Glicosil transferase
Deficiência no animal
Alteração da matriz de mucopolissacarídeos da cartilagem por diminuição da atividade da enzima glicosiltransferase: espessamento, arqueamento e encurtamento dos ossos longos, malformação do crânio e alongamento das juntas;
Alteração da reprodução hormonal
Alteração da tolerância a glicose
Deficiência no homem
1 caso de diabetes que respondeu ao Mn
Estudo de depleção: dermatite fugaz,diminuição do cálcio, fósforo e fosfatase alcalina no plasma.
1 caso publicado por dieta pobre em Mn por 17 semanas:
Dermatite, avermelhamento da barba e cabelo, diminuição do crescimento da barba, cabelos e unhas,
Náuseas e vômitos
Moderada perda de peso
Efeitos tóxicos
Animal: deficiência de ferro
Homem: patologia severa do sistema nervoso com sintomas psiquiátricos, hiper irritabilidade, atos violentos e alucinações;
Alteração da imunidade, reprodução, nefrite e alterações testiculares, alterações hepáticas e pancreáticas com queda na produção de insulina.
>>>Molibdênio
Função
Enzima xantina desidrogenase/oxidase – conversão das purinas teciduais em ácido úrico
Enzima aldeído oxidase – ação semelhante a anterior mas não totalmente conhecida
Enzima sulfeto oxidase – na deficiência genética da enzima: anormalidades neurológicas severas, retardo mental e ectopia do cristalino.
Deficiência
Alguns estudos correlacionam a deficiência de molibdênio com o aumento da incidência do câncer esofágico.
>>>Selênio
Essencialidade
Considerado essencial aos animais em 1957 e aos humanos em 1973 devido ao seu papel na Glutationa Peroxidase.
Deficiência do Selênio
Miocardiopatia de Keshan – miocardiopatia endêmica na China que respondeu a suplementação de selênio
Doença de Kashin Beck – osteoartropatia endêmica na China
Diminuição da atividade anti-oxidante devida a diminuição da ação da enzima Glutationa Peroxidase – enzima dependente de selênio.
O selênio é necessário para a síntese da enzima Glutationa Peroxidase que atua na proteção do organismo contra os radicais livres. Essa enzima atua de forma combinada com a vitamina E. Ela age na parte líquida da célula e a vitamina E nas membranas.
Alteração do metabolismo da Tireóide
Enzimas selênio dependente
Iodotironina 5 deiodinase de tipo I - Se dependente - fígado e rim
Enzima que tem Se com co-fator
Iodotironina 5 deiodinase de tipo II - Se tem influência na atividade - cérebro, hipófise e gordura marrom
A deficiência de Se causa diminuição da conversão do T4 à T3 e portanto aumento do TSH que leva a uma maior produção de H 2O 2 na tireóide com diminuição da Glutationa peroxidase (dependente de Se) e aumento da lesão da tireóide pelo aumento dos radicais livres.
Alteração do metabolismo da Testosterona
O Selênio atua na síntese da testosterona. Na deficiênica de Se temos oligoespermia,
diminuição da motilidade e da contagem de espermatozóides com redução da fertilidade.
Aumento da incidência de doença cardio-vascular
Aumento da incidência de câncer
Câncer intestinal
Os efeitos da deficiência de selênio no aumento da freqüência de pólipos adenomatosos e de câncer intestinal tem sido demonstrada tanto em estudos "in vitro", no animal, no homem. Estudos tem demonstrado que nas regiões do planeta onde os solos são mais pobres em selênio a incidência de câncer intestinal é maior. Estudos epidemiológicos também tem demonstrado uma maior freqüência de câncer intestinal nas pessoas com níveis de selênio no plasma menores. Além disso, um estudo encontrou taxas de selênio inferiores no intestino de indivíduos com câncer em relação a intestinos normais. Plasma selenium concentration in patients with stomach and colon cancer in the Upper Silesia . Scieszka M et al. Neoplasma 1997;44(6):395-7 2.
Proteção contra os metais tóxicos
Se forma um complexo estável com o Cd diminuindo a sua deposição hepática. Também protege os testículos do Cd.
O Se forma um complexo estável com o Hg que é eliminado pelo fígado.
>>>Vanádio
O vanádio atua provavelmente a nível de pós receptor e pode mimetizar a ação da insulina. O vanádio estimula a síntese do glicogênio no fígado, músculos esqueléticos e adipócitos contribuindo para o controle da glicemia.
Estudo recente usando altas doses de vanádio (150mg/dia) em 11 diabéticos de tipo 2 por 6 semanas encontrou: melhora do controle glicêmico:
antes
depois
glicemia mg/dl
194
155
Hb glicosilada
8,1
7,6
Frutosamina mmol/l
348
293
Colesterol mg/dl
223
202
LDL mg/dl
141
129
Vanadyl sulfate improves hepatic and muscle insulin sensitivity in type 2 diabetes. Cusi K et al. J Clin Endocrinol Metab 2001 Mar;86(3):1410-7
>>>Zinco
Existem mais de 200 metaloenzimas zinco-dependentes e inúmeras enzimas que utilizam o zinco como co-fator
Algumas Enzimas zinco dependentes :
lactato dehydrogenase,
malato dehydrogenase,
fosfatase alcalina
Conteúdo corpóreo: 2g
ejaculação = 1mg de zinco
Ações do Zinco:
Os primeiros relatos de deficiência grave de zinco na infância mostravam uma doença caracterizada por: dermatite orificial e acral, diarréia e alopécia.
Ação nas papilas gustativas causando em casos de deficiência alteração das papilas gustativas com diminuição do apetite ou apetite exótico.
Facilita a cicatrização causando dificuldade de cicatrização nos casos de deficiência.
Estabilizador de constituintes subcelulares e das membranas celulares
Transcrição e translação do DNA -> atua no processo de expressão genética
Imunidade
Participa da estrutura e atividade da timulina que atua na imunidade celular e na diferenciação das células T
Atua no metabolismo da vitamina A:
Síntese e degradação de lipídeos, carboidratos, proteínas e ácidos nucleicos,
Imunidade
Ação anti-oxidante
SOD Zn-Cu
Crescimento
Maturação sexual e esquelética
Efeitos colaterais:
Interfere na absorção do cobre. Pode ser usado no tratamento da doença de Wilson
Metabolismo da tireóide: bloqueia a conversão hepática do T4 à T3 no rato.
Investigation on the relationships among blood zinc, copper, insulin and thyroid hormones in non-insulin dependent diabetes mellitus and obesity. Chen-MD et al. Chung-Hua-I-Hsueh-Tsa-Chih. 1991 Dec; 48(6): 431-8
Zinco no Diabetes
O zinco encontra-se diminuído na grande maioria dos diabéticos a nível intracelular, mesmo quando as taxas plasmáticas estão normais, devido ao aumento da excreção urinária (o dobro da excreção encontrada em pessoas normais) e diminuição da absorção conforme demonstra o estudo da absorção de zinco em diabéticos realizada com zinco65. Além disso, após 8mg de sulfato de zinco EV em pacientes com diabetes (versus controle) sem alteração nas taxas basais de zinco foi observada uma redução mais rápida nas taxas plasmáticas de zinco nos diabéticos em relação ao grupo controle sem alteração na excreção urinário evidenciando uma deficiência tecidual de zinco no diabético.
O zinco faz parte, junto com o cobre, da enzima SOD ZnCu que é de grande importância no controle dos radicais livres. Além disso, na deficiência de zinco ocorre o aumento de glicose no sangue porque o zinco é necessário para a síntese da insulina, sua estocagem no pâncreas e para sua captação hepática. As ilhotas de Langherans tem um teor significativamente mais alto de zinco que os outros tecidos. A suplementação com zinco além de melhorar o controle do diabetes interfere também no metabolismo ósseo, diminuindo a calcitonina e melhorando a densidade óssea e melhora a imunidade protegendo o diabético das infecções.
Além das consequências no metabolismo da insulina, no diabético ocorre uma deficiência de zinco na retina e na coróide com deficiência na captação do zinco tanto na retina como na coróide.
Berenice C. Wilke
(http://www.medicinacomplementar.com.br/tema031005.asp)
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