(Mitos, Meias verdades e Mistérios)
O cérebro é um dos mais incríveis órgãos do corpo humano. Ele controla nosso sistema nervoso central, mantendo-nos andando, falando, respirando e pensando. O cérebro é também incrivelmente complexo, sendo composto de cerca de 100 bilhões de neurônios. Há tanta coisa acontecendo no cérebro que existem vários campos diferentes da medicina e da ciência devotados a tratá-lo e a estudá-lo, incluindo a neurologia, que trata distúrbios físicos do cérebro; a psicologia, que inclui o estudo dos processos comportamentais e mentais; e a psiquiatria, que trata doenças mentais e distúrbios. Alguns aspectos de cada um tendem a se sobrepor, e outros campos se cruzam dentro do estudo do cérebro também.
Essas disciplinas estão aí de alguma forma desde os tempos antigos, por isso você poderia pensar que até o momento já deveríamos saber tudo o que há para saber sobre o cérebro. Nada poderia ir além da verdade. Depois de milhares de anos de estudo e tratamento de cada aspecto dele, ainda há muitas facetas do cérebro que permanecem um mistério. E porque o cérebro é tão complexo, tendemos a simplificar a informação sobre como ele funciona para torná-lo mais compreensível.
Ambas essas coisas colocadas juntas resultaram em muitos mitos sobre o cérebro. A maioria não está totalmente fora - nós apenas não ouvimos a história toda. Vamos dar uma olhada nos mitos que têm circulado sobre o cérebro, começando com sua cor.
Você já parou para pensar na cor do seu cérebro? Talvez não, a menos que você trabalhe na área médica. Temos todas as cores do arco-íris em nossos corpos na forma de sangue, tecido, osso e outros líquidos. Mas você deve ter visto cérebros preservados em vidros na sala de aula ou na TV. Na maioria das vezes, esses cérebros são de uma coloração branca, cinza, verde ou amarelada. Na verdade, o cérebro vivo e pulsante que reside no seu crânio não é apenas de um insosso e frio cinza. É também branco, preto e vermelho.
Como muitos mitos sobre o cérebro, este tem um pouco de verdade, porque muito do cérebro é cinza. Às vezes, o cérebro todo é referido como massa cinzenta. O famoso detetive Hercule Poirot, dos livros de mistério da escritora Agatha Christie, diz com frequência que está usando suas "pequenas células cinzas". A massa cinzenta existe em cada uma das várias partes do cérebro (assim como na medula); ela consiste de diferentes tipos de células, como os neurônios. Contudo, o cérebro também contém massa branca, que inclui as fibras nervosas que conectam a massa cinzenta.
O componente negro é chamado de substantia nigra, que ó o latim para (você adivinhou!) "substância preta". Ela é preta por causa da neuromelanina, um tipo especializado do mesmo pigmento que colore pele e cabelos, e é uma parte do gânglio basal. Finalmente, nós temos o vermelho - graças aos muitos vasos sanguíneos no cérebro. Então, por que os cérebros preservados têm aparência fria do giz em vez de esponjosa e colorida? Reclame com os fixadores - como o formaldeído - que mantêm o cérebro preservado.
Da cor para o som. O próximo mito pode fazer você repensar suas escolhas musicais.
Você não se sente culto ao sintonizar a estação de música clássica no rádio ou na internet e ouvir uma ópera ou uma sinfonia de um grande compositor como Mozart? Baby Einstein, uma empresa que faz DVDs, vídeos e outros produtos para bebês incorporando arte, música e poesia clássica, é uma franquia de 1 milhão de dólares. Pais compram os produtos porque acreditam que a exposição à grande arte (como os DVDs e CDs Baby Mozart) pode ser bom para o desenvolvimento cognitivo de seus filhos. Há até CDs de música clássica criados para ser tocados durante a gravidez, para o feto em desenvolvimento. A ideia de que ouvir música clássica pode aumentar sua capacidade cerebral se tornou tão popular que foi apelidada de "O efeito Mozart". Então como esse mito começou?
Nos anos 1950, um médico de ouvido, garganta e nariz chamado Albert Tomatis começou a tendência, alegando que o uso da música de Mozart foi um sucesso para ajudar pessoas com distúrbios de fala e de audição. Nos anos 90, 36 estudantes em um estudo da Universidade da Califórnia em Irvine ouviram 10 minutos de uma sonata de Mozart antes de fazerem um teste de QI. De acordo com Gordon Shaw, o psicólogo encarregado do estudo, a pontuação dos estudantes subiu em torno de oito pontos. O efeito Mozart acabava de nascer.
Um músico chamado Dan Campbell registrou a frase e criou uma linha de livros e CDs baseados no conceito, e Estados como a Geórgia, a Flórida e o Tennessee separaram dinheiro para música clássica para bebês e outras crianças pequenas. Campbell e outros foram mais longe, afirmando que ouvir Mozart pode até melhorar a saúde das pessoas.
Contudo, o estudo da UC Irvine original foi controverso na comunidade científica. Frances Rauscher, pesquisador envolvido no estudo, declarou que eles nunca afirmaram que ouvir Mozart tornava as pessoas mais inteligentes; apenas que aumentava o desempenho em certas tarefas espaço-temporais. Outros cientistas foram incapazes de reproduzir os resultados originais, e não há atualmente nenhuma informação científica para provar que ouvir Mozart, ou qualquer música clássica, faz alguém ficar mais esperto. Rauscher até disse que o dinheiro gasto por aqueles Estados seria de mais utilidade em programas de música - há algumas evidências que mostram que aprender um instrumento melhora a concentração, a auto-confiança e a coordenação.
Mozart certamente não pode lhe fazer mal, e você até pode gostar dele se você tentar, mas não conseguirá ficar mais inteligente.
Quando você pensa em como nosso cérebro se parece, provavelmente imagina dois lobos de massa cinzenta arredondada cobertos por "rugas". À medida que os humanos evoluíram como espécie, nossos cérebros cresceram para acomodar todas as futuras funções que nos diferenciam dos outros animais. Mas para manter o cérebro compacto o suficiente para caber no crânio proporcional ao resto do tamanho do nosso corpo, o cérebro dobrou-se enquanto crescia. Se nós desdobrarmos todas as cadeias de montanhas e cavidades, o cérebro seria do tamanho de uma fronha. As montanhas são chamadas giros, e as cavidades são chamadas sulcos. Vários desses giros e sulcos têm até nomes, e há variações de como exatamente eles se parecem de uma pessoa para outra.
Nós não começamos com cérebros enrugados, contudo; um feto em seu desenvolvimento tem um cérebro pequeno e liso. À medida em que o feto cresce, seus neurônios também crescem e migram para diferentes áreas do cérebro, criando os sulcos e os giros. Quando alcança 40 semanas, seu cérebro é tão enrugado quanto o de um adulto (menor, é claro). Por isso não desenvolvemos novas rugas enquanto aprendemos. As rugas com as quais nascemos são as rugas com as quais vivemos e morremos - assumindo que nossos cérebros permaneçam saudáveis.
Nossos cérebros mudam, sim, quando aprendemos - não só na forma de sulcos e giros adicionais. Esse fenômeno é conhecido como plasticidade do cérebro. Ao estudarem mudanças nos cérebros de animais como ratos enquanto aprendiam tarefas, pesquisadores descobriram que as sinapses (as conexões entre os neurônios) e as células sanguíneas que suportam os neurônios crescem e aumentam em número. Alguns acreditam que nós conseguimos novos neurônios quando fazemos novas memórias, mas isso ainda não foi provado em cérebros de mamíferos como o nosso.
Se você já teve a sensação de que havia mensagens escondidas em comerciais, séries de TV ou filmes, o próximo mito deve interessá-lo.
O conceito de mensagens subliminares alimenta nossa suspeita sobre o que o governo, as grandes corporações e a imprensa estão realmente tentando nos dizer. Uma mensagem subliminar (significando sob o "limen", ou nosso limite de percepção consciente) é uma mensagem embutida dentro das imagens ou de sons para penetrar nosso subconsciente e influenciar nosso comportamento. A primeira pessoa a cunhar o termo foi James Vicary, um pesquisador de mercado. Em 1957, Vicary declarou que ele inseriu mensagens dentro de um filme que estava sendo exibido em New Jersey. As mensagens, que piscavam por 1/3000 de um segundo, diziam aos espectadores para beber Coca-Cola e comer pipoca.
De acordo com Vicary, as vendas da Coca-Cola no cinema aumentaram cerca de 18%, e as de pipoca, mais de 57%, provando que suas mensagens subliminares funcionavam. Livros publicados no final dos anos 50 e começo dos 70 mostravam como os anunciantes poderiam usar técnicas como a de Vicary para convencer os consumidores a comprar seus produtos. Alguns comerciais de rádio e TV incluíram mensagens subliminares, mas muitas redes e associações profissionais as baniram. Em 1974, a FCC baniu por completo o uso de publicidade subliminar.
Mas as mensagens funcionavam? Acontece que Vicary na verdade mentiu sobre os resultados de seu estudo. Estudos subsequentes, incluindo um que piscava a mensagem "Telefone agora" durante a transmissão de uma estação de TV canadense, não teve efeito sobre os telespectadores. O infame julgamento do Judas Priest nos anos 90, em que as famílias de dois jovens que cometeram suicídio alegavam que uma canção da banda dizia aos garotos para fazê-lo, terminou com o juiz declarando que não havia evidência científica em seu favor. Ainda assim, algumas pessoas afirmam que a música, bem como anúncios, contêm mensagens escondidas.
Por isso, escutar aquelas fitas de auto-ajuda enquanto você dorme provavelmente não vai machucá-lo, mas também não vão ajudá-lo a parar de fumar.
Muitos animais podem usar seu cérebro para fazer algumas coisas que os humanos não podem, como encontrar formas criativas para solucionar problemas, mostrar auto-consciência, mostrar empatia por outros e aprender como usar ferramentas, Mas embora os cientistas não concordem com uma definição única do que torna uma pessoa inteligente, eles geralmente concordam que os humanos são as mais inteligentes criaturas na Terra. Na nossa sociedade "maior é melhor", então, essa deve ser a razão para os humanos terem o maior cérebro de todos os animais, porque nós somos os mais inteligentes. Bem, não exatamente.
O cérebro de um adulto mediano pesa cerca de 1,3 kg. O golfinho - um animal muito inteligente - também tem um cérebro que pesa cerca de 1,3 kg em média. Mas a baleia cachalote, que não é considerada tão inteligente quanto o golfinho, tem um cérebro que pesa 7,8 kg. No lado menor da balança, o cachorro beagle tem um cérebro que pesa 72 g, e o do orangotango tem apenas 370g. Tanto o cachorro quanto o orangotango são animais bem inteligentes, mas eles têm cérebros pequenos. Um pássaro como o papagaio tem um cérebro que pesa menos do que 1 grama.
Você deve ter notado alguma importância em todas essas comparações. O corpo de um golfinho médio pesa cerca de 158,8 kg, enquanto uma cachalote pode chegar a 13 toneladas. Em geral, quanto maior o animal, maior o crânio, e, consequentemente, maior o cérebro. O beagle é um cachorro razoavelmente pequeno, com cerca de 11 kg no máximo - razão pela qual seu cérebro é tão pequeno. A relação entre o tamanho do cérebro e a inteligência não é sobre o peso do cérebro; é sobre a relação do peso do cérebro com o peso de todo o corpo. Para humanos, essa relação é de 1 para 50. Para a maioria dos outros mamíferos, é de 1 para 80, e para pássaros, de 1 para 220. O cérebro pesa mais em um humano do que em outros animais.
Inteligência também tem a ver com os diferentes componentes do cérebro. Os mamíferos têm córtexes cerebrais muito grandes, ao contrário dos pássaros, peixes ou répteis. O cerebelo nos mamíferos hospeda os hemisférios cerebrais, que são responsáveis por funções mais altas, como memória, comunicação e pensamento. Humanos têm o maior córtex cerebral entre os mamíferos, em relação ao tamanho de seus cérebros.
Em um momento na história, a decapitação era um dos métodos preferidos de execução, em parte graças à guilhotina. Embora muitos países que executam criminosos tenham acabado com este método, ele ainda é usado por certos governos, terroristas e outros. Não há nada mais final do que arrancar a cabeça de alguém. A guilhotina surgiu devido ao desejo de uma morte rápida e relativamente humana. Mas quão rápida ela é? Se sua cabeça fosse cortada fora, você ainda seria capaz de ver ou movê-la, mesmo que por alguns segundos?
Esse conceito apareceu pela primeira vez durante a revolução Francesa, período em que a guilhotina foi criada. Em julho de 1793, uma mulher chamada Charlotte Corday foi executada pela guilhotina pelo assassinato de Jean-Paul Marat, jornalista radical, político e revolucionário. Marat era adorado por suas ideias, e a massa que esperava a guilhotina estava ansiosa para ver Corday pagar. Depois que a lâmina desceu e a cabeça de Corday caiu, um dos executores a pegou e deu um tapa em sua bochecha. De acordo com testemunhas, os olhos de Corday viraram e olharam para o homem, e seu rosto mudou para uma expressão de indignação. Depois desse incidente, pessoas executadas pela guilhotina durante a Revolução eram instadas a piscar na sequência, e testemunhas afirmaram que a piscada ocorria por até 30 segundos.
Outro conto frequentemente contado de demonstração de consciência seguindo a degola data de 1905. O médico francês Gabriel Beaurieux testemunhou a degola de um homem chamado Languille. Ele escreveu que imediatamente após a decapitação, "as pálpebras e os lábios... moveram-se em contrações rítmicas irregulares por cerca de cinco ou seis segundos". Beaurieux chamou o nome de Languille e disse que as pálpebras dele "abriram-se devagar, sem qualquer contração espasmódica" e que "suas pupilas se focaram" [fonte: Kershaw]. Isso aconteceu uma segunda vez, mas na terceira vez que Beaurieux chamou por Languille, não obteve resposta.
Essas histórias parecem dar credibilidade à ideia de que é possível para alguém permanecer consciente, mesmo que por alguns segundos, depois de ser decapitado. Contudo, os médicos mais modernos acreditam que as reações descritas acima são, na verdade, movimentos reflexos dos músculos, em vez de movimento consciente e deliberado. Separado do coração (e, por consequência, do oxigênio), o cérebro imediatamente entra em coma e começa a morrer. De acordo com Harold Hillman, a consciência é "provavelmente perdida entre 2 e 3 segundos, devidos à rápida queda do bombeamento do sangue intracraniano [fonte: New Scientist].
Por isso, embora não seja inteiramente impossível para alguém ainda estar consciente depois de ter a cabeça cortada, não é provável. Hillman também aponta que a assim chamada guilhotina indolor é qualquer coisa menos isso. Ele declara que "a morte ocorre devido à separação do cérebro e da medula espinhal, depois da transecção dos tecidos que a cercam. Isso causa dor aguda e possivelmente severa". Essa é um das razões pelas quais a guilhotina, e a decapitação em geral, não é mais um método de execução aceito em muitos países com pena capital.
Lesão cerebral é algo extremamente assustador. Para algo tão misterioso e maravilhoso, o cérebro pode, na verdade, ser muito frágil e suscetível a lesões múltiplas. O dano no cérebro pode ser causado por uma infecção ou um acidente, e significa essencialmente a morte das células do cérebro. Para muitas pessoas, a mera ideia de dano cerebral conjura imagens de pessoas em estados vegetativos persistentes, ou, no mínimo, de invalidez física ou mental permanente.
Quanto tempo dura o dano cerebral? Depende do local e do tamanho da lesão
Mas esse nem sempre é o caso. Há muitos diferentes tipos de dano cerebral, e exatamente como eles afetarão alguém depende muito da sua localização e do quão grave eles são. Um dano leve no cérebro, como uma concussão, geralmente ocorre quando o cérebro salta dentro do crânio, resultando em sangramento e laceração. O cérebro pode se recuperar de machucados pequenos incrivelmente bem; a vasta maioria das pessoas que experimentam uma lesão leve no cérebro não experimenta invalidez permanente.
Na outra ponta do espectro, uma lesão cerebral grave significa que o cérebro sofreu danos extensos. Isso às vezes exige uma cirurgia para remover coágulos ou aliviar a pressão intracraniana. Para quase todos os pacientes que sofrem danos cerebrais graves, o resultado é dano permanente e irreversível.
E aqueles que ficam no meio? Algumas pessoas com dano cerebral experimentam invalidez permanente, mas podem recuperar-se parcialmente de suas lesões. Se os neurônios estão danificados ou perdidos, eles não podem crescer novamente - mas as sinapses, ou as conexões entre os neurônios, podem. Essencialmente, o cérebro cria novas trilhas entre os neurônios. Além disso, áreas do cérebro não originalmente associadas com algumas funções podem assumir o controle delas e permitir que o paciente reaprenda como fazer as coisas. Lembra-se do fenômeno da plasticidade do cérebro mencionado no mito sobre as rugas cerebrais? É assim que pacientes de derrames, por exemplo, podem recuperar habilidades de fala e motora através de terapia.
A coisa importante a se lembrar é que ainda há muitas coisas desconhecidas sobre o cérebro. Quando uma pessoa é diagnostica com lesão no cérebro, nem sempre é possível para os médicos saber exatamente quão bem alguém será capaz de se recuperar do dano. Pacientes surpreendem os médicos sempre e excedem as expectativas do que são capazes de fazer dias, meses e até anos depois. Nem todo dano cerebral é permanente.
Falando de dano cerebral, no próximo mito, vamos olhar os efeitos das drogas em nosso cérebro.
Exatamente como os diferentes tipos de drogas afetam o cérebro é um assunto bem controverso. Algumas pessoas alegam que apenas o uso de drogas mais graves pode ter qualquer efeito duradouro, enquanto outros acreditam que a primeira vez que você usa uma droga, está provocando um dano de longo prazo. Um estudo recente afirma que usar drogas como maconha apenas causa perdas pequenas de memória, enquanto outro firma que o uso pesado de maconha pode encolher partes do cérebro permanentemente. Quando se trata de usar drogas como cocaína ou ecstasy, algumas pessoas até acreditam que você pode, na verdade, fazer buracos no seu cérebro.
Na verdade, a única coisa que pode de fato fazer um buraco no seu cérebro é um trauma físico. Pesquisadores alegam, sim, que as drogas podem causar mudanças de curto e longo prazo no cérebro. Por exemplo, o uso da droga pode baixar o impacto de neurotransmissores (químicos naturais usados para comunicar sinais no cérebro) como a dopamina, motivo pelo qual os viciados precisam de mais e mais da droga para atingir a mesma sensação. Além disso, mudanças nos níveis dos neurotransmissores podem resultar em problemas com funções neurológicas. Se isso é ou não reversível é algo para debate.
Por outro lado, um estudo publicado na revista "New Scientist" de agosto de 2008 mostra que o uso prolongado de algumas drogas na verdade provoca o crescimento de certas estruturas no cérebro, resultando em uma mudança permanente. Eles dizem que é por isso que é tão difícil mudar o comportamento dos viciados.
Mas embora o júri ainda esteja decidindo sobre como exatamente as drogas podem afetar o cérebro no longo prazo, nós podemos ter razoável certeza de uma coisa: nenhuma droga faz buracos no cérebro.
A seguir, vamos ver o que o álcool faz no nosso cérebro.
Apenas a observação de uma pessoa bêbada é suficiente para nos convencer de que o álcool afeta diretamente o cérebro. Pessoas que bebem até ficar bêbadas acabam com a fala mole e capacidades motoras e de julgamento comprometidas, entre outros efeitos colaterais. Muitas delas sofrem de dor-de-cabeça, náusea e outros efeitos colaterais desagradáveis na sequência - em outras palavras, uma ressaca. Mas alguns poucos drinks no final de semana, ou mesmo uma sessão de bebedeira ocasional, são suficientes para matar as células do cérebro? E a bebedeira por farra ou a frequente ingestão de bebidas dos alcóolicos?
Nem tanto. Até em alcóolicos, o uso do álcool não resulta de fato em morte das células do cérebro. Ele pode, contudo, danificar as terminações nervosas, chamadas de dendritos. Isso resulta em problemas no transporte de mensagens entre os neurônios. A célula em si não é danificada, mas a forma como ela se comunica com outras é alterada. De acordo com pesquisadores como Roberta J. Pentney, professora de anatomia e biologia celular da Universidade de Buffalo, esse dano é reversível na maioria das vezes.
Alcoólicos desenvolvem um distúrbio neurológico chamado síndrome de Wernicke-Korsakoff, que pode resultar em perda de neurônios em algumas partes do cérebro. Essa síndrome também causa problemas de memória, confusão, paralisia dos olhos, falta de coordenação muscular e amnésia. E pode levar à morte. Contudo, o distúrbio não é causado pelo álcool em si. Ele é o resultado da deficiência de tiamina, uma vitamina B essencial. Não apenas os alcóolicos graves são frequentemente malnutridos, como o consumo extremo de álcool pode interferir na absorção da tiamina pelo corpo.
Por isso, embora o álcool não mate as células do cérebro, ele pode danificar seu cérebro se você beber em quantidades massivas.
Quanto do seu cérebro você já usou enquanto lia essa lista de mitos? O próximo e último mito para explicar tudo.
Com frequência nos dizem que usamos apenas 10% de nosso cérebro. Pessoas famosas como Albert Einstein e Margaret Mead teriam dito variações disso. Esse mito é provavelmente um dos mais conhecidos mitos sobre o cérebro, em parte porque tem sido publicado na mídia sempre. De onde veio isso? Muitas fontes apontam para um psicólogo americano do começo dos anos 1900 chamado William James, que disse que "uma pessoa comum raramente atinge senão uma pequena porção de seu potencial" [fonte: AARP]. De algum modo, isso foi convertido no uso de apenas 10% do nosso cérebro.
À primeira vista, isso parece realmente enigmático. Por que teríamos o maior cérebro em proporção ao nosso corpo entre os animais (como discutido no sexto mito desta lista) se nós não usamos de fato todo ele? Muitas pessoas pularam na ideia, escrevendo livros e vendendo produtos que diziam aproveitar o poder dos outros 90%. Crentes nas habilidades psíquicas, como percepções extrassensoriais, usam isso como prova, alegando que pessoas com essas habilidades usavam o resto de seu cérebro.
Eis aqui uma coisa: isso não é realmente verdade. Além daqueles 100 bilhões de neurônios, o cérebro também está cheio de outros tipos de células que estão continuamente em uso. Podemos nos tornar incapazes por danificar apenas uma pequena área do cérebro, dependendo de sua localização, por isso não há como funcionarmos com apenas 10% de nosso cérebro em uso.
Imagens do cérebro mostraram que não importa o que estamos fazendo, nosso cérebro está sempre ativo.
Algumas áreas são mais ativas que outras, mas a menos que tenhamos dano cerebral, não há uma parte do cérebro que não esteja funcionando. Aqui está um exemplo. Se você estiver sentado na mesa, comendo um sanduíche, você não está usando ativamente seu pé. Você está concentrado em levar o sanduíche à boca, mastigá-lo e engoli-lo. Mas isso não significa que seus pés não estejam funcionando - ainda há atividade neles, como fluxo sanguíneo, mesmo quando você não os está movendo.
Por isso não existe potencial extra escondido que você possa mexer, em termos do espaço no cérebro. Talvez em capacidade, mas isso é outra história. Há muito ainda a aprender sobre ele.
Muita coisa !
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