(Legumes e vegetais são eficientes antioxidantes)
É comum escutarmos falar em combate aos radicais livres (RL). Sabemos que eles podem fazer mal, mas se nos perguntarem o que são e por que são maléficos, simplesmente não saberemos explicar.
Os radicais livres são substâncias produzidas pelo próprio corpo humano, através do processo de respiração, por infecções, stress, pelo consumo de gorduras saturadas e pelo hábito de fumar e consumir álcool. Em níveis considerados normais, não são prejudiciais à saúde. Em excesso, podem ser tóxicos ao organismo.
Radicais livres são moléculas reativas e instáveis, pois perdem elétron e requer outro para se neutralizar, por isso, roubam elétrons de outras moléculas. São prejudiciais ao organismo por destruírem as membranas das células, inclusive as que fazem parte do sistema imunológico, responsável por proteger o corpo contra as doenças.
Entretanto, nosso organismo possui enzimas protetoras que reparam 99% dos danos causados pela oxidação. “Existem radicais livres que, ao se formarem, o próprio organismo tem como combatê-los. No entanto, há alguns cujo combate somente pode ser exercido com a adição de vitaminas, minerais e outros nutrientes.
Quando não nos alimentamos corretamente, esses radicais livres passam a ser nocivos à saúde”, explica Luzidalva Medeiros, especialista em Clínica Médica.
Do total do oxigênio que respiramos todos os dias, 2% a 5% convertem-se em radicais livres. São quantidades moderadas, que ajudam a combater as bactérias e vírus presentes no nosso corpo. Produzidos em excesso, danificam as células saudáveis e aumentam o risco para o desenvolvimento de doenças crônicas, como arterosclerose, hipertensão, diabetes, doença cardiovascular, catarata, mal de Alzheimer, câncer, desordens neurológicas (ex: Mal de Parkinson), artrite e envelhecimento precoce.
Antioxidantes como medicamentos
Antioxidantes são moléculas com carga positiva, que doam elétrons para os radicais livres, tornando-os inofensivos. “No organismo existem os doadores de elétrons naturais, as glutationas. No entanto, em algumas situações de estresse oxidativo pode existir um desequilíbrio entre radical livre e antioxidante, neste caso, os antioxidantes provenientes da dieta (vitaminas, minerais, flavonóides) serão necessários para evitar que os RL causem danos, roubando elétrons de membranas celulares, proteínas e ácidos nucléicos, alterando a função celular”, explica a nutricionista Luciana Yuki Tomita.
A humanidade apresenta enorme diversidade genética e, portanto, é grande a variação dos seus parâmetros bioquímicos e metabólicos. Na população, teremos do lado esquerdo (10%) da curva de Gauss - famosa curva em forma de sino com abertura para baixo, que demonstra a distribuição normal de eventos –, pessoas com sistema endógeno de defesa antioxidante não muito eficaz (apresentam elevados níveis de radicais livres) e do lado direito (10%) da curva, pessoas com sistema endógeno de defesa antioxidante muito eficaz (apresentam baixo nível de radicais livres).
Entre os dois extremos (80%) teremos as pessoas com níveis intermediários de eficácia do sistema endógeno de defesa e também com níveis intermediários de geração de radicais livres.
Artigo do fisiologista José de Felippe Júnior, presidente da Associação Brasileira de Medicina Complementar, afirma que “o emprego de antioxidantes como medicamento diminui o risco de câncer naquela parte da população que está do lado esquerdo da curva de Gauss (10%) ou na fase intermediária (80%). Nas pessoas com bom sistema de defesa anti-radical livre a administração de antioxidantes aumentará o risco de câncer”.
De acordo com José de Felippe Júnior, no paciente com câncer instalado e em evolução, os antioxidantes como medicamentos são prejudiciais, porque vão diminuir a apoptose (mecanismo que elimina células pré-cancerosas, células cancerosas, células infectadas por vírus e todo tipo de células lesadas ou alteradas), aumentar a proliferação celular maligna e diminuir a eficácia da quimioterapia. “Muitos médicos, na tentativa de amenizar os efeitos colaterais da quimioterapia, prescrevem antioxidantes. Querem ajudar e acabam por dificultar o tratamento do câncer”, afirma o fisiologista.
Alimentação “colorida” no combate ao câncer
Em estudo conduzido por Tomita e col. (2007), em mulheres atendidas em dois hospitais públicos da cidade de São Paulo, observou-se que aquelas que consumiam maior quantidade de folhas de cor verde-escura, legumes e frutas de cor laranja e amarelo escura, fontes de beta-caroteno e vitamina C, apresentaram menor chance de desenvolver lesão pré-cancerosa, a neoplasia intraepitelial cervical de grau 3 (NIC3). “A proteção para esta também foi encontrada em mulheres que apresentaram concentrações maiores de licopeno no sangue.
Estes resultados confirmam estudos internacionais conduzidos em países desenvolvidos. É provável que uma alimentação rica em antioxidantes melhore a resposta imunológica, evitando o aparecimento de lesões no colo uterino e a sua evolução até o câncer”, confirma Tomita.
O efeito dos radicais livres nas células imunológicas é prejudicial para a sua função, pois a membrana destas células é rica em ácidos graxos poliinsaturados, que podem ser oxidados por estes radicais.
Com a oxidação, a membrana perde a sua integridade, tem a sua fluidez e a distribuição dos receptores da superfície celular prejudicada, comprometendo a resposta imunológica (CALDER e GRIMBLE, 2002). Com uma alimentação rica em antioxidante o equilíbrio entre radical livre/antioxidante será mantido.
De acordo com Tomita, os alimentos que têm maior poder antioxidante são: vitamina E (encontrados em óleos vegetais, principalmente canela e girassol, germe de trigo, castanha-do-pará); beta-caroteno (cenoura, mamão, abóbora, batata doce, manga, laranja, couve, brócolis, espinafre, agrião, rúcula); licopeno (tomate, molho de tomate, melancia, goiaba); vitamina C (laranja, acerola, limão, mamão, frutas cítricas, kiwi); o mineral selênio (castanha-do-pará, cereais integrais) e o flavonóide quercetina (maçã, chá verde, alho, vinho tinto, frutas cítricas, folhas verde escuras).
Luzidalva Medeiros confirma esta afirmação. “Mulheres que consomem mais folhas verde-escuras (como agrião, espinafre e couve), vegetais (como pimentão e brócolis), além de frutas de cor laranja ou amarela (entre as quais mamão, manga, laranja e acerola), têm menor risco de desenvolver o NIC3 – forma mais severa da lesão pré-câncer”, diz Luzidalva.
Assim como os alimentos, medicamentos também são capazes de prevenir processos oxidativos celulares provocados pelo acúmulo de radicais livres. O Hinox Polivitamínico e Poliminerais, do Laboratório Farmacêutico Hebron, possui, em sua composição, vitaminas A, C e E, antioxidantes, betacaroteno, minerais, zinco, selênio, cobre e magnésio.
Sua composição ajuda na prevenção da arteriosclerose, hipertensão arterial, artrite, catarata, degeneração muscular e neoplasias.
Exercícios físicos produzem radicais livres
O médico americano Kenneth Cooper, criador do teste de Cooper, descreve em seu livro “Revolução Antioxidante” (Editora Record, 1994), duas maneiras pelas quais os radicais livres são produzidos durante exercícios físicos: a primeira está ligada aos exercícios exaustivos, como há um aumento de 10 a 20 vezes no consumo de oxigênio no corpo, ocorre a liberação de radicais livres.
A segunda está ligada ao processo conhecido como isquemia-reperfusão. Quando se pratica exercícios físicos intensos, o fluxo sangüíneo é desviado dos órgãos indiretamente envolvidos para os músculos em atividade.
Assim, parte do corpo irá passar por uma deficiência de oxigênio. Ao término, há reperfusão, quando o sangue retorna aos órgãos. Este processo foi associado à liberação de grandes quantidades de radicais livres.
Partindo desta afirmação, poderia se concluir que atletas sofreriam mais a ação dos radicais livres. Mas não é bem assim. A ação dos radicais livres aumenta apenas temporariamente, voltando depois ao nível normal.
Outro ponto importante é que em pessoas bem treinadas o aumento da ação dos radicais livres devido ao exercício é bem menor. Atividade física regular aumenta os níveis de enzimas que destroem os radicais livres. Para evitar problemas, Cooper recomenda praticar os exercícios entre 65-80% da freqüência cardíaca máxima.
Com o passar dos anos, os radicais livres atacam cada vez mais as células do organismo, e os cuidados se tornam ainda mais necessários. Alimentos que contêm propriedades antioxidantes, como o beta-caroteno e as vitaminas C e E, e exercícios moderados podem retardar esse processo. Logo, atenção na hora de comer, se exercitar e cuidar do corpo. Às vezes o perigo está bem próximo, mas não conseguimos enxergar
Referência Bibliográfica
Tomita LY. Consumo alimentar e concentrações séricas de micronutrientes: associação com lesões neoplásicas de colo uterino.
[Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da Universidade de São Paulo]. 2007. Disponível no site http://pandora.cisc.usp.br/teses/disponiveis/6/6133/tde-20122007-160208/publico/TESEeletronicaTomitaLY.pdf