(Suas informações genéticas...estão fora de você !)
Os órgãos são formados por células que, no conjunto, são os tecidos. Temos aproximadamente 10 trilhões de células, a maioria em proliferação. A célula é a unidade estrutural do organismo, como os tijolos da parede, e todas vieram da fusão do espermatozóide com o óvulo.
Cada célula tem funções que significa produzir alguma coisa, na maioria proteínas ou enzimas.
A produção das proteínas ocorre no citoplasma, a parte prática da fábrica celular. O núcleo constitui a gerência, onde se encontram os arquivos e informações necessárias para a fábrica funcionar. Estes arquivos são armários cheios de fichas com informações detalhadas e sequencialmente organizadas.
Os arquivos nas células são os cromossomos e as informações, os genes. O material dos arquivos é DNA ou ácido desoxirribonucléico - nos escritórios são de aço ou madeira. Cada célula humana tem 23 pares de cromossomos ou arquivos cheios de informação para seu funcionamento, pois uma cópia é de segurança.
O homem imaginava ter o maior número de genes entre as espécies, mas temos menos que o arroz, a vaca e o rato. Calculávamos 100 mil genes, mas temos 25 a 30 mil. Todas as células têm os mesmos arquivos, as mesmas informações, mas algumas especializaram-se diferenciando uma das outras.
Os tecidos funcionam por um eficiente sistema de comunicação intercelular. Uma célula conversa com outras liberando produtos químicos ou palavras denominadas mediadores que encontram ouvidos bioquímicos na superfície das demais.
Estes receptores transmitem essa mensagem química para o núcleo ler um gene, ou ficha, no cromossomo e executar a função determinada. A insulina no receptor das células mandam-nas a deixar entrar a glicose, fonte de energia.
A termo gene, criado em 1909 pelo dinamarquês Wilhelm Johannsen, gerou o dogma: todas características dos seres são determinadas pelos genes. Mas a transmissibilidade das características para as outras gerações não depende exclusivamente dos genes.
Esta transmissibilidade é inexata pois sofre muitas influências externas, paralelas e vizinhas aos genes e a ciência que pesquisa estes fatores periféricos é a epigenética.
A epigenética mostrou que gene é conceitual e não existe como partícula; revelou que os genes funcionam como um todo, não isoladamente; evidenciou que o citoplasma é mais importante que o núcleo na hereditariedade pelo RNA, DNA mitocondrial, enzimas e proteínas e comprovou que para a célula O MEIO AMBIENTE É UM ORGANISMO VIVO, o local onde ela vive.
Os genes não determinam tudo e nada exclusivamente, são os fatores ambientais da célula e organismo que os ligam e desligam. Muitas vezes os genes estão presentes, mas desligados por enzimas, proteínas, hormônios e outros mediadores.
As adaptações que os genes sofrem para adequar a célula ou organismo ao meio ambiente podem acontecer sem que sejam alterados. Na mutação altera-se a sequência dos nucleotídeos nos genes por ação de fatores externos químicos ou físicos durante o processo de reduplicação ou por um acidente bioquímico.
Epigenética não é mutação ! Entre os fatores epigenéticos destacam-se a alimentação, poluição, drogas e exercícios que podem modificar o padrão de liga e desliga de genes durante a divisão celular.
Em 2001, muitas frustrações aconteceram com o anúncio do sequenciamento do genoma, pois esperava-se respostas para as doenças como obesidade, diabete e câncer. Elas não vieram pois os genes representam um dos fatores envolvidos, existem outros relacionados ao funcionamento celular ainda não desvendados e a epigenética começa a explicar esta variabilidade.
Os fatores epigenéticos podem ainda ser transmitidos para as próximas gerações adaptando-as para enfrentar o ambiente, sem que se demore séculos como ocorre nas mutações genéticas. Lamarck defendia a adaptação ao ambiente e está sendo ressuscitado, ele voltou!
Craig Venter, pesquisador mais envolvido no projeto genoma, afirmou que os genes e o ambiente têm a mesma importância e em cada doença e condição há um equilíbrio diferente na influência desses dois fatores.
A biologia molecular provou que o ambiente é uma parte essencial da vida e aqueles que só enxergam os genes ou apenas o ambiente saem perdendo: eles são inseparáveis.
Não cuidar das condições ambientais é suicídio e, ao mesmo tempo, homicídio das futuras gerações... das células e do homem!
(Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC)
Finalmente começamos à entender a palavra "HOLISMO" de forma corretíssima !
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