quarta-feira, 1 de agosto de 2012

PESQUISA - "O EIXO IMUNO-PINEAL"




Por ter seus níveis aumentados em ambientes escuros, a melatonina foi, por décadas, associada exclusivamente à regulação do sono. A professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Regina Pekelmann Markus, comprovou que o hormônio produzido pela glândula pineal cumpre outro importante papel: é um anti-inflamatório poderoso. 
O estudo abre um novo caminho para tratar enfermidades como derrames e ferimentos em pacientes com diabetes, câncer e Aids.
 Em palestra ministrada, nesta quinta-feira, 26, a professora do Laboratório de Cronofarmacologia, do Instituto de Biologia da USP, contou de sua pesquisa que resultou na descoberta de que o organismo produz melatonina em locais com inflamação, passando a operar como significativo elemento de defesa.
Em uma aula aberta, a professora mostrou como a melatonina atua no sistema neural central, impedindo que certas células de defesa, os neutrófilos, entrem nos tecidos. 
Explica: “quando os neutrófilos atravessam em direção ao tecido, produzem uma montanha de óxido nítrico e radicais livres, matam tudo que está em volta e se matam, na expectativa de estarem matando tudo que está errado, ou seja, comportam-se como são verdadeiros camicazes”.  Desse modo, a melatonina evita que células kamicazes agridam células saudáveis, levando a doenças.
Desde a década de 80, Regina Markus e seu grupo de pesquisa têm trabalhado com ratos – sabidos animais noturnos – para avançar no estudo da interação entre o tempo biológico e a administração de medicamentos, a chamada cronofarmacologia. Foi buscando entender os fatores de envelhecimento que a pesquisadora chegou a seu achado científico, resultados bem distintos aos esperados nos mamíferos com quadro clínico de inflamação.
Sua hipótese foi comprovada: a de que quando alguém se fere ou tem alguma inflamação, a glândula pineal para de produzir melatonina de maneira a permitir que os neutrófilos entrem nos tecidos e combatam bactérias. 
Perseguindo a relação entre a parada de produção de melatonina pela pineal e o aparecimento desta nos locais das feridas, é que concluiu que as células de defesa ativadas produzem melatonina. “Graças à mastite (inflamação mamária) que tive, à época que dei à luz à minha filha, percebi que era possível essa aplicação em seres humanos”, conta.
“Sem dúvida, dispomos de um novo paradigma científico, importante para as ciências médicas, o eixo imuno-pineal”, afirma. Regina aproveitou para deixar uma advertência, a do uso indiscriminado da melatonina, seja como complemento alimentar seja como indutor do sono.
 No Brasil, a comercialização do hormônio está proibida pela Anvisa e, mesmo assim, a utilização clandestina ocorre em larga escala. 
SBPC
Por Luciana Barreto

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