quarta-feira, 21 de agosto de 2013

CIÊNCIA - "MAIORIA DOS ÁTOMOS QUE COMPÕEM OS SERES HUMANOS FOI PRODUZIDA EM ESTRELAS"


(Desligamos nosso GPS com o Universo)

Em 1929, o astrônomo Harlow Shapley, da Universidade Harvard, afirmou: "Nós, seres orgânicos que nos descrevemos como humanos, somos feitos da mesma matéria que as estrelas".

Foi uma observação surpreendente, considerando que, na época, ninguém nem sequer sabia o que fazia as estrelas brilharem.

Trinta anos ainda se passariam até Geoffrey e Margaret Burbidge, William Fowler e Fred Hoyle, em artigo que se tornaria clássico, demonstrarem que os átomos que nos compõem não apenas são os mesmos que os das estrelas: a maioria deles foi, na verdade, produzida em estrelas. 

Começando pelos primordiais hidrogênio e hélio, elementos mais densos como ferro, oxigênio, carbono e nitrogênio foram gerados numa série de reações termonucleares e então espalhados pelo espaço quando essas estrelas morreram e explodiram como supernovas, num frenesi termonuclear final.

Notícias divulgadas recentemente me lembraram disso. Uma delas envolvia escaravelhos, que, aparentemente, orientam-se pela luz da Via Láctea.

A outra foi o anúncio de que astrônomos identificaram a origem da existência do ouro no Universo em um cataclismo conhecido como explosão de raios gama.

Edo Berger, do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, no Massachusetts, disse que a explosão pode ter criado uma quantidade de ouro equivalente à massa de 20 Luas da Terra.

As próprias estrelas de nêutrons são frutos de cataclismos: explosões de supernovas que podem espremer o espaço para fora de átomos e comprimir uma massa maior que o Sol numa bola de 32 quilômetros de diâmetro.

Berger sugeriu que, de fato, é possível que todo o ouro do universo tenha sido produzido por colisões entre estrelas de nêutrons.

Isso nos traz de volta ao escaravelho, o humilde rola-bosta.

Esses seres, que vivem das fezes de animais maiores, têm um problema. A partir do momento em que um escaravelho encontrou esterco e rolou um pouco para formar uma bola, ele precisa tirar a bola do local, rolando-a em linha reta para longe da pilha de esterco, senão outros escaravelhos virão roubá-la.

Como os besouros fazem isso, mesmo em noites sem luar, têm sido um mistério.

Em janeiro, uma equipe de pesquisadores suecos e sul-africanos revelou que os escaravelhos coprófagos africanos podem usar a Via Láctea para se orientar.

Os pesquisadores descobriram que, quando eram colocados pequenos "chapéus" nos escaravelhos, impedindo-os de enxergar o céu, ou quando nuvens ocultavam as estrelas, os escaravelhos andavam a esmo.

Mas eles não se desviam do caminho em noites estreladas.

Seria difícil imaginar uma conexão entre o microscópico e o macroscópico e entre o espaço interno e o sideral mais bela que essa ou que tão bem induz um sentimento de humildade.

Os antigos egípcios consideravam os escaravelhos sagrados por sua capacidade de gerar vida a partir de dejetos.

O escaravelho era símbolo da renovação eterna e da vida que nasce da morte.

Os egípcios usavam representações de escaravelhos como amuletos.

Em um dos símbolos máximos de reciclagem, alguns desses amuletos eram feitos de ouro.


DENNIS OVERBYE
DO "NEW YORK TIMES"

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