quarta-feira, 11 de junho de 2014

SAÚDE - "A MECÂNICA QUÂNTICA DA DIGESTÃO"


De um ponto de vista holístico, compreender qualquer aspecto do corpo humano – seja a digestão e a eliminação, seja a maneira como processamos o que vemos e ouvimos – implica uma visão do corpo como um sistema único integrado no qual todas as partes estão programadas para funcionarem de forma unificada.
Embora o aparelho gastrointestinal seja, em si, um complexo mecanismo fascinante e maravilhoso, ele é, ainda assim, apenas um dos aspectos de uma entidade intrincada e frequentemente confusa que é o nosso eu físico. 
Por esse motivo, acredito que seja apropriado começar por oferecer uma nova perspectiva do seu corpo como um todo – poderíamos até dizer uma nova visão.
Acredito que depois de olhar para si nesta nova perspectiva, você se verá como antes, mas poderá passar a contar com uma base importante sobre a qual lhe será possível criar um programa para uma saúde verdadeiramente perfeita – ou seja, um aparelho gastrointestinal saudável e um corpo globalmente saudável.
Essa nova perspectiva deriva da Ayurveda, pelo que, de certo modo, ela não é realmente nova, uma vez que a Ayurveda é o mais antigo sistema de cuidados de saúde que o Homem conhece. É notável que essa antiga maneira de interpretar o corpo, que foi testado e aprovada durante mais de 1000 anos, também seja compatível com a nossa interpretação contemporânea do funcionamento da natureza. Com efeito, a Ayurveda limita-se a utilizar uma terminologia diferente para expressar algumas das mais antigas ideias da biologia molecular e da física quântica.
O primeiro princípio dessa nova/antiga perspectiva é que o corpo humano não é uma “escultura imóvel” sólida, constituída por partículas, estática e fragmentada que existe isolada do resto da natureza. Em vez disso, a Ayurveda reconhece o corpo como fazendo parte do continuum natural. Desse ponto de vista, o corpo humano é um campo dinâmico de energia. Ele participa constantemente de uma troca com o campo mais vasto de energia que o circunda e que abarca o resto do universo. O mais extraordinário é que, em resultado dessa troca contínua, o seu corpo é renovado a cada momento da sua vida!
Se você pudesse ver o seu corpo como ele realmente é no nível mais elementar, dar-se-ia conta de que 98% dos átomos da sua anatomia não estavam nele há um ano. Por exemplo, há estudos científicos que demonstram que os ossos – que parecem tão sólidos e que sustentam toda a estrutura do corpo – são inteiramente renovados a cada três meses. 
Isso significa que, embora a configuração das células ósseas permaneça constante, os milhares de milhões de átomos que formam os ossos e passam livremente de um lado para outro através das paredes celulares estão sendo submetidos a uma mudança e uma substituição constantes. Em decorrência disso, um novo esqueleto é formado a cada três meses.
Os mesmos processos estão em funcionamento no resto do corpo.
 As células do fígado renovam-se muito lentamente, mas mesmo assim há novos átomos que passam através delas, como a água num riacho, criando um novo fígado a cada seis semanas. 
A pele renova-se todos os meses.
 Mesmo dentro do cérebro – onde as células não se regeneram quando morrem – os átomos específicos de carbono, hidrogénio, nitrogénio e oxigénio são totalmente diferentes hoje do que eram há um ano.
 No aparelho digestivo, um novo revestimento estomacal é criado a cada quatro dias, e as células superficiais que efetivamente entram em contato com a comida que é digerida renovam-se a cada cinco minutos. 
Basicamente, o corpo recria-se completamente até ao último átomo no decorrer de um período de quatro ou cinco anos.
É como se vivêssemos num prédio cujos tijolos estivessem constantemente a ser retirados e substituídos. De um dia para o outro, ele parece o mesmo edifício, mas na verdade é fundamentalmente diferente. O corpo humano também parece o mesmo de dia para dia, mas encontra-se num eterno processo de mudança e troca com o universo que o cerca. E esse processo inclui as funções básicas do metabolismo, da digestão e da eliminação.
Toda a renovação e a recriação que mencionei são cuidadosamente controladas. E é preciso que o sejam, para que o corpo seja reconstruído de uma forma reconhecível, em vez de resultar numa coleção acidental de partes. Como tem origem esse cuidadoso controle ? 
Em poucas palavras, ele tem uma origem inteligente.
Isso conduz-nos ao primeiro, e talvez o mais importante, princípio ayurvédico: a nossa fisiologia é inerentemente inteligente, e as múltiplas funções fisiológicas que comandam a substituição das células, das moléculas e até mesmo dos átomos dependem da inteligência inerente que habita o corpo humano.
Nos últimos anos, a física quântica forneceu-nos essa mesma perspectiva básica da natureza do funcionamento humano. O corpo é formado por átomos. E o que são os átomos? Talvez seja mais fácil pensar neles como partículas que rodopiam a uma velocidade incrível através de vastos espaços vazios – colidindo, desintegrando-se e projetando-se de um lado para outro -, mas os átomos não são na verdade partículas no sentido em que um seixo é uma partícula de rocha, ou um galho um pedaço de árvore. Em vez disso, eles são minúsculas flutuações de energia na extensão infinita de energia a que a física moderna chama campo unificado.
 É do campo unificado que todas as forças naturais emergem, dando origem a um universo material que inclui o nosso corpo.
Basicamente, o corpo é um vazio de matéria, tal como o espaço intergaláctico. 
Pode ser surpreendente perceber que uma massa aparentemente sólida de matéria viva que respira é na verdade, na sua maior parte, um espaço vazio – nada além de uma ilusão perceptiva, um reflexo da inteligência subjacente mais fundamental que estrutura todo o universo. Pode ser surpreendente, mas a natureza também o é muitas vezes.
Essa perspectiva da fisiologia humana, que reconhece a inteligência como a estrutura básica a partir da qual o corpo é formado, dá origem ao conceito de corpo mecânico quântico, expressão que presta homenagem a outro princípio crucial: o de que a inteligência interna do nosso corpo é um autêntico génio que espelha de forma suprema a inteligência do universo no seu todo.
Estas noções grandiosas podem parecer um tanto ou quanto afastadas do verdadeiro tema desta materia. A fim de preencher essa lacuna, vamos primeiro tentar localizar os mecanismos do corpo responsáveis pela cura ou, como eu prefiro dizer, pela recriação do corpo.
É óbvio que nenhum órgão é o único responsável; cada parte do nosso corpo é capaz de reconhecer quando está danificada e de iniciar a cura. Este fato, por si só, já é um milagre impressionante, e ainda não temos respostas simples para explicar, desde logo, como é que isso é possível. Cada um dos milhares de processos envolvidos na cura até mesmo de um ferimento superficial é incrivelmente complexo e não totalmente compreendido.
 Embora, por exemplo, inúmeros artigos tenham sido escritos sobre o processo de coagulação do sangue, continua a ser verdade que não existe nenhuma intervenção médica capaz de reproduzir a ação curativa que tem lugar num minúsculo corte no dedo.
De acordo com a Ayurveda, a capacidade de cura é a qualidade primária e mais importante do corpo. A Ayurveda define a cura como um processo em que o corpo retoma as suas funções naturais. Isso tem lugar através da revitalização da inteligência inerente a cada célula do corpo. Quando Hipócrates afirmou, há milhares de anos, que só a natureza pode gerar a cura, estava a proclamar uma verdade que é válida até hoje, apesar de todos os nossos progressos tecnológicos.

Consideremos, por exemplo, o caso de uma fratura no braço. Um médico experiente alinhará os fragmentos do osso de maneira a minimizar o esforço da natureza para realizar a cura. O médico criterioso cria condições que ajudam o restabelecimento da saúde, mas reconhece sempre que existe algo que ultrapassa os seus poderes enquanto médico e que é o verdadeiro responsável pela cura.
A digestão desempenha um papel determinante no processo natural de cura. A constante renovação de cada parte da nossa fisiologia depende de um funcionamento digestivo adequado, que a Ayurveda encara como uma maneira de extrair inteligência dos alimentos e depois processá-la para fornecer apoio à inteligência inerente à nossa fisiologia global.
Deste modo, o processo da digestão desempenha um papel fundamental na manutenção da homeóstase e do poder de cura globais. É através da digestão que a inteligência, sob a forma de nutrientes extraídos do ambiente que cerca o corpo, é extraída, desmembrada e depois novamente combinada de maneira a recriar cada célula, cada órgão e cada tecido do corpo humano.
Não quero deixar de reforçar este aspecto. Pode parecer estranho, para muitas pessoas, ver a digestão ser discutida em função da inteligência. Afinal de contas, no Ocidente, estamos acostumados a associar a inteligência ao cérebro, e não ao estômago ou ao intestino. Mas a Ayurveda reconhece a inteligência que existe em cada órgão e em cada célula do corpo.
Todas as funções do corpo possuem pontos de equilíbrio inerentes estabelecidos pela inteligência natural de que estivemos a falar, o que é, de fato, extraordinário: os milhões de moléculas da sua corrente sanguínea, por exemplo, viajam para onde são necessárias com uma precisão infalível; a pupila do seu olho está continuamente a ajustar-se às condições variáveis da luz com uma flexibilidade maior do que a lente de qualquer câmara que você pudesse sonhar em comprar; a temperatura do seu corpo está constantemente a descer ou a subir à medida que o termómetro interno reage à temperatura do ar, à hora do dia e ao seu nível de esforço. E, o tempo todo, o seu sistema digestivo trabalha com a eficiência de uma linha de montagem de uma fábrica bem administrada.
Os sintomas só começam a ocorrer quando esse equilíbrio é rompido por alguma razão, por perturbação dos pontos previamente estabelecidos da nossa fisiologia. Quando isso acontece, você deve dedicar-se mais à tarefa de restabelecer o equilíbrio do seu sistema do que à de derrotar ou reprimir os sintomas, em consequência do que os sintomas acabarão por desaparecer por si mesmos.
Para que a digestão e o metabolismo funcionem com as suas precisão e eficiência naturais, um estilo de vida equilibrado é o primeiro pré-requisito. A comida pouco saudável, os hábitos de sono insatisfatórios, as emoções negativas ou a tensão física e mental podem fazer com que o corpo se desvie do seu comportamento natural.
Talvez seja o papel fundamental que a digestão desempenha na constante restauração da inteligência do corpo que a torna tão requintadamente sensível a todas as influências da vida moderna. 
Pode ser por esse motivo que os problemas do aparelho digestivo estão entre as principais queixas ouvidas hoje em dia pelos médicos.
Por conseguinte, numa perspectiva ayurvédica, não existem linhas de demarcação bem definidas no nosso corpo – não existem limites nem fronteiras. O estudo da digestão é inseparável do estudo dos sistemas neurológico e cardiovascular, assim como o corpo humano em si é inseparável do seu ambiente.
O corpo é parte de um campo unificado mais amplo, e o nosso ser estende-se para além deste saco de pele e ossos em direção aos confins mais remotos do cosmos. 
Os nossos pensamentos, fantasias, sentimentos, desejos e energias fazem tanto parte de “nós” quanto as nossas unhas, manchas e o sistema digestivo. Porquê dar mais atenção aos elementos fisiológicos? Porquê pensar que qualquer imperfeição neles existente faz mais parte de nós do que a nossa consciência infinita, que é capaz de alcançar as estrelas num piscar de olhos? Com efeito, nós somos as estrelas. Somos os rios, as tempestades, somos as enchentes, somos as galáxias. 
Todos eles são projeções da nossa consciência.
Mas para vivenciarmos plenamente essa consciência, precisamos da nossa fisiologia. Precisamos ver, ouvir, sentir, cheirar e digerir, a fim de sentir e compreender o universo no qual vivemos. Por conseguinte, a nossa intenção nesta materia  é mostrar o equilíbrio saudável não só em cada célula do aparelho digestivo, mas também em todos os aspectos do corpo mecânico quântico.
DEEPAK  CHOPRA
A Ciência Moderna

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