O físico indiano Amit Goswami foi, dos 14 aos 45 anos, materialista. Renomado na academia pelos seus trabalhos científicos e PhD em Física Nuclear, ele ensinou durante 32 anos na Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, e é professor emérito da instituição.
Mas, na metade da sua carreira, o cientista viveu um momento epifânico que o fez redirecionar todo o seu trabalho de pesquisa. Desde então, Goswami está envolvido em estudos que buscam conciliar ciência e religião.
A sua teoria de uma nova ciência contraria a ideia de que a origem de todas as coisas é a matéria e afirma que a consciência é a base de tudo que conhecemos e percebemos. Considerado um dos mais originais pensadores contemporâneos nessa área, Amit Goswami tornou-se mais conhecido no mundo a partir de 2004 ao participar e expor suas ideias no filme Quem somos nós?, mas também já causou polêmica nos meios acadêmicos e foi criticado.
Muitos o consideram como um cientista transformado por seu próprio trabalho. Atualmente, Amit Goswani faz palestras pelo mundo e dá aulas sobre ciência e vida espiritual em entidades e institutos dedicados a estudos religiosos e filosóficos nos EUA, Portugal e no Brasil.
Em visita ao Recife para participar do II Simpósio Internacional de Saúde Quântica e Qualidade de Vida, concedeu esta entrevista ao Diario.
“A consciência é a base de tudo”
O que é a Física Quântica e o que fez o senhor se interessar por ela?
Um dia eu estava numa conferência de onde eu saí muito chateado comigo mesmo, porque eu achava que a minha palestra não tinha sido boa o suficiente. Eu tinha a impressão de que as pessoas davam palestras melhor do que eu e ficava com uma certa inveja, e esse sentimento ruim ficava me incomodando. Em certo momento, deixei a conferência e, quando saí, senti o vento do mar batendo no meu rosto. Foi neste exato momento que eu pensei ‘Por que eu estou vivendo assim?’ Eu me dei conta de que a minha pesquisa e a minha vida estavam completamente separadas, que meus estudos não contribuíam em nada com a minha vida, e vice-versa. Então, decidi que queria integrar a minha vida e o meu trabalho. Este foi o início de uma longa pesquisa sobre a integração, que nos levou a um novo paradigma que pode integrar a ciência com a vida de todos os dias a partir da Física Quântica.
Como nós podemos identificar os princípios da Física Quântica no nosso dia a dia?
Os princípios quânticos estão muito mais presentes na vida das pessoas do que elas podem imaginar. Quando nós pensamos, ou temos uma intuição, por exemplo. A Física Quântica mostra que, diferentemente do que é afirmado pela ciência tradicional, a matéria não é a base de tudo, mas a consciência. A consciência é que é o fundamento de tudo o que vemos e percebemos e, portanto, nós podemos decidir as nossas próprias escolhas. A partir dos conceitos da Física Quântica nesta nova ciência, nós aprendemos como desenvolver a nossa criatividade e assim podemos trabalhar numa mudança de mentalidade da sociedade como um todo.
Todos nós podemos ser criadores do novo mundo porque a Física Quântica afirma que sempre existem várias possibilidades e nós podemos escolher aquilo que queremos para nós, assim como influir no nosso entorno. Nós podemos transformar as coisas na nossa vida, com sentimentos como o amor, e não precisamos nos destruir com emoções negativas. A nova ciência diz que, apesar dessas emoções negativas, nós podemos transformar as coisas. E nosso cérebro é capaz de criar novos circuitos na mente para superar esta negatividade. É isso o que eu ensino.
Como o senhor poderia resumir o paradigma desta nova ciência que o senhor vem difundindo?
Cada um de nós tem uma consciência e nossas mentes podem se comunicar se nossos cérebros estiverem num estado específico de concentração. A consciência diz que o mundo é cheio de possibilidades e que nós temos liberdade de escolha. Se nós aprendermos a escolher com criatividade, acessando esta interconectividade não-local que cada um de nós tem, que é um estado de consciência não-local, se nós aprendermos a dar um salto do nosso ego individual para essa interconectividade não-local, então nós podemos acessar essas ideias de criatividade e mudar as nossas vidas. Assim, se acessarmos esse estado, seremos mais responsáveis pelas nossas ações. E quando assumimos essa responsabilidade, podemos enfrentar todos os problemas que vêm nos perseguindo. Então “escolha” e “responsabilidade” são as palavras chaves desta nova ciência. Neste sentido, a nova ciência nos ensina a exercitar a criatividade.
Na sua teoria, o senhor também fala muito em espiritualidade. Qual é a sua opinião sobre o papel das religiões na sociedade?
Eu acho que a religião tem um papel importante, que é a consciência de que nós temos espiritualidade em nossas mentes e não devemos ter vergonha, pois tudo está integrado. Mas eu não acredito que Deus seja propriedade de nenhuma religião. Na minha opinião, Deus está em cada um de nós, é a nossa consciência individual. Neste sentido, a propriedade de uma religião é tirar Deus de dentro de nós mesmos. Para mim, a religião nos ensina como acessar Deus, a nossa consciência, mas Ele está disponível para qualquer um de nós, independentemente de religião, pela meditação, pela criatividade, etc.
O senhor ficou muito conhecido pelo filme Quem somos nós, que é inspirado no seu livro A física da alma. O que o senhor acha deste filme e do filme O Segredo, que aborda o mesmo tema?
A proposta do filme Quem somos nós? foi mostrar os fundamentos básicos da Física Quântica, que são as ideias de base da nova ciência. Este é um assunto que interessa muito às pessoas, por isso o filme se tornou muito popular. Quanto ao filme O Segredo, eu não acho que seja um filme ruim, ele tem uma boa mensagem. O problema é que ele não a desenvolve o suficiente. Faltam no filme as outras etapas do processo criativo, “fazer” e “ser” também são importantes. A Física Quântica é justamente baseada nesta combinação “fazer-ser”. E o filme pode dar a impressão errada de que basta desejar profundamente algo que isso vai se realizar, mas não é assim, isso não é suficiente. O processo criativo é que ativa esta consciência não-ordinária. Se você quer ser bem-sucedido, pense de maneira quântica e seja criativo.
A comunidade científica é conhecida por ser um espaço de confronto de ideias e debates. Mas, há anos, o senhor vem difundindo a sua teoria e nós não ouvimos muitos comentários da parte dos cientistas tradicionais sobre os estudos do senhor. Como o senhor explica isso?
Faz tanto tempo que a ciência tradicional é cética no que diz respeito a questões espirituais que o novo paradigma é, de certa forma, assustador para eles. Demora muito tempo para mudar um paradigma que é considerado verdadeiro e muitas pessoas, simplesmente, ainda não estão preparadas para fazê-lo. Eu entendo isso e respeito as dificuldades delas, mas eu tenho certeza de que, mais cedo ou mais tarde, a nova ciência vai prevalecer, porque ela é verdadeira. A teoria heliocêntrica de Copérnico, por exemplo, levou mais de 100 anos para ser levada a sério. Esta nova ciência, que vê a consciência como a base do ser, só surgiu em 1993. Eu tenho certeza de que a ciência vai um dia vencer seus preconceitos e reconhecer o novo paradigma.
Os seus livros fazem muito sucesso no Brasil e o senhor vem cada vez mais aqui? Como o senhor explica esta relação?
A primeira vez que eu vim ao Brasil foi em 1996 para uma conferência de psicologia em Manaus. Os brasileiros eram tão receptivos à nossa teoria de que a consciência é a base do ser que isso me tocou muito. Em 2007, o meu livro O universo autoconsciente foi lançado no Brasil e eu comecei a vir cada vez mais frequentemente para dar workshops e conferências. Foi assim que a minha relação com o Brasil foi se tornando cada vez mais próxima. Eu sou muito grato pela receptividade e pelo entusiasmo dos brasileiros com as minhas teorias e acho que o Brasil é um terreno muito fértil para a nova ciência. Eu sempre observei que os brasileiros são muito expressivos com relação ao que eles sentem, não apenas ao que pensam. Esta forma de ser é muito importante para entender a visão integralista entre pensamento e emoção, que é o caminho do futuro. Eu acredito que o Hemisfério Norte esteja talvez perdendo esta essência da integração e os brasileiros têm muito a contribuir com isso.
Saiba mais
Amit Goswami doutorou-se pela Universidade de Calcutá em 1964, mudando-se em seguida para os EUA, onde mora até hoje.
Após ensinar durante 32 anos no Departamento de Física da Universidade de Oregon, nos EUA, ele é hoje professor emérito da instituição.
Aposentado da vida acadêmica desde 2003, Amit Goswami dedica-se atualmente a realizar palestras pelo mundo divulgando suas teorias e o ativismo quântico.
O ativismo quântico acredita que o ser humano é capaz de mudar o mundo e a si mesmo a partir dos princípios da física quântica.
8 Livros traduzidos para o português
Em 2010:
– O ativista quântico
Em 2009:
– Evolução criativa das espécies
Em 2008:
– O universo autoconsciente
– Criatividade quântica
– Deus não está morto
– O médico quântico
Em 2005:
– A física da alma
Em 2003:
– A janela visionária
Em 2004, o filme Quem somos nós? ("What a bleep do we know?") abordou as teorias do físico indiano e, desde então, Amit Goswami se tornou ainda mais conhecido.
Por Victória Álvares, especial para o DIARIO/RECIFE
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